Uma das bases do capitalismo é a crença de que a mobilidade social é possível, e não estou falando da epidemia semiótica da meritocracia que apareceu nos últimos anos. Essa crença está no centro das revoltas burguesas contra a aristocracia e o direito de nascença. O que a democracia liberal fez, em grande medida, foi retirar o poder, violentamente, da família, como instituição. Todos os homens são nascidos iguais, portanto a família não garante mais a posição de barão ou rei. Todas as posições de poder devem ser conquistadas, através do apoio coletivo.
Mas, se na lei, a família não é mais uma instituição que garante o poder, na prática, sabemos que não é assim. O que a democracia fez, em grande medida, foi associar o poder ao dinheiro, e graças ao mecanismo jurídico da herança, o dinheiro é associado às famílias. Então, a família continua, para todas as razões práticas, a garantir poder, mas mediado pelo dinheiro, em vez de diretamente. Por isso, talvez, não seja certo chamar nenhuma das democracias liberais de democracias, porque na verdade são, quase todas, oligarquias, dominadas por poucas e poderosas famílias muito ricas.
A única diferença prática entre a oligarquia e aristocracia é o mecanismo de alcançar o poder. Enquanto a aristocracia mantém um quase monopólio para algumas famílias e novos ricos precisam se inserir em posições subalternas através de casamentos, na oligarquia, em que não há um monopólio, o exercício do poder é mais livre, através de vários mecanismos de pressão, apesar da prática de casamentos continuar, mais como meio de impedir disputas fratricidas dentro da elite econômica que como pedágio necessário.
Os liberais mais cínicos vão dizer que isso é um avanço em relação ao antigo regime, onde o status econômico da época da implantação da aristocracia é calcificado em posições políticas, enquanto os liberais radicais, mais conhecidos como socialistas, vão dizer que é um desvirtuamento dos ideais das revoluções burguesas.
As atuais “democracias” não são mais que uma máscara para esconder um sistema oligárquico, em que famílias ricas e, portanto, poderosas monopolizam a maior parte do poder. Essa máscara existe porque caso as pessoas percebam que o mundo continua tão dependente da loteria do nascimento quanto a Europa medieval, que as mesmas famílias estão no poder há séculos, fazendo de tudo para que quanto mais as coisas mudem, mais continuem iguais, elas se revoltam. E tudo que essas famílias não querem é um revolta que consiga ver através dessa máscara.
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