Quando eu comecei a me interessar por política, e portanto por sua contraparte, a economia, no longínquo 2002, era comum ver articulistas reclamando que o Brasil tinha baixa poupança interna e portanto dependia de poupança externa. Traduzindo, que havia pouca gente com dinheiro guardado no Brasil e portanto o financiamento de financiamento para projetos de investimentos dependia de dinheiro de estrangeiros, a chamada poupança externa.
Não vemos mais essa reclamação pelo fato que o Brasil atualmente tem poupança, muita poupança. Hoje o problema é o “excesso de liquidez”. Mas esse dinheiro quase nunca se transforma em projetos de investimento, mas apenas em fundos e especulações, pressão para manter os juros altos e, quando muito, investimento especulação imobiliária que torna a vida de todo mundo pior.
Um erro comum dos defensores do capitalismo é acreditar que o melhor resultado vai ocorrer naturalmente, ou seja, não são necessárias medidas coercitivas do Estado para obrigar os agentes privados a fazer o melhor para a coletividade. A história do Brasil com a poupança interna mostra claramente que a realidade é o contrário. Dinheiro é poder no sistema capitalista, e quem detém o poder vai mobilizá-lo para maximizar seus ganhos. Os ricos conseguiram criar um consenso de que era necessário incentivar seu próprio enriquecimento, ao mesmo tempo que garantiram a falta de restrições de mercado que os obrigassem a cumprir o que anunciaram como objetivo de seu enriquecimento.
Hoje, o Brasil tem uma quantidade enorme de recursos em bolsas e investimentos imobiliários, que não dão retorno algum para a sociedade, e pior, pressionam para medidas que ampliem seu próprio retorno, como a desregulamentação do mercado imobiliário ou a manutenção das taxas de juros em níveis escorchantes.
O maior problema de ter muita poupança é que ela facilmente se transforma em poder político, o que garante que essa poupança não se transforme em ganhos coletivos. O maior problema é que a função do Estado é, principalmente, melhorar a vida de quem não tem como acumular poupança, mas esses são os que menos tem poer político no capitalismo.
Não deixa de ser irônico que tenha sido nos governos do PT que uma classe proprietária “poupadora” se ampliou e consolidou o Brasil, mas isso é tema para outro dia.
Sérgio Lima
Interessante é que este mesmo raciocínio é aplicado por quem “investe” em criptomoedas. No estado nascente, as criptomoedas seriam usadas como “troca de valor”… mas rapidamente os grandes investidores “hackearam” a ideia para que que as mesmas se transformassem em “reservas de valor” que só funciona com especulação e esquema ponzi, pois moeda (nenhuma) gera riqueza…
masdivago
Sim. É preciso muito poder político para limitar o poder do dinheiro. Em um mercado desregulamentado como o do dinheiro de banco imobiliário, não existe como fazer essa pressão política, e fica tudo nas mãos de quem tem mais dinheiro.
No fim das contas, o liberalismo é um erro.