Praticamente não existem mais redes sociais hoje em dia, espaços de interação comunitária, mas sim televisões distribuídas, com vários produtores publicando em seu pequeno canal.
Se você acompanha o pessoal que trabalha com “conteúdo” na internet, você sabe que por volta de 2010 as pessoas pararam de falar em redes sociais e passaram a falar em mídias sociais. Talvez o maior pivô dessa mudança tenha sido o Instagram, que junta dois elementos essenciais. Primeiro a assimetria entre os usuários, entre quem segue e quem é seguido, entre quem posta imagens e quem comenta texto. Essa assimetria já estava presente no Twitter, nos blogs, mas não no Facebook, que era a grande rede social até então. No Twitter, a assimetria das relações de seguir era compensada pelos tuítes serem fáceis de produzir, terem valor muito parecido na plataforma. Depois vem a substituição da mídia por formas com produção mais custosa. Do texto para a imagem no Instagram, da imagem para o vídeo no TikTok. Essa mudança reforça a assimetria entre os usuários, criando um grupo que se comunica pela mídia mais custosa, os “produtores de conteúdo”, e um público, que se comunica por curtidas, compartilhamento nos stories, comentários e mídias equivalentes.
Quando as pessoas falam que sentem falta de “redes sociais baseadas em texto”, provavelmente elas querem dizer que sentem falta de redes sociais, porque o tempo, esforço e dinheiro necessário para produzir imagens e vídeo fazem plataformas centradas nesse formato se aproximarem gradual e naturalmente de um modelo assimétrico, com produtores e consumidores de conteúdo bem diferenciados. O modelo de “mídia social” de hoje é mais próximo de uma televisão distribuída, onde vários atores podem montar sua mini emissora, que de uma rede social. Talvez, redes sociais só possam ser baseadas em texto.
Algum nível de assimetria não pode deixar de ser visto como natural. Há menos pessoas com interesse em falar que em ouvir, e isso é visível desde a época das páginas pessoais, esse período mítico antes da era dos blogs. Mas o nível atual de assimetria é resultado da ação de alguns atores incentivando a televisão distribuída ao longo de anos. As grandes corporações e seus algorítimos de visibilidade e de remuneração tem o poder de decidir o que faz sucesso e é economicamente viável.
Filosoficamente, a televisão distribuída não é um problema, ao menos é melhor que a televisão centralizada. Mas há problema em não termos mais redes sociais e a televisão distribuída se apresentar como rede social. Não existe porque não termos os dois tipos de espaços, paralelos e intercomunicantes, exceto pela necessidade de monopólio das corporações capitalistas.