Um país pobre e desigual

O Brasil é um país pobre. Tão pobre que para estar entre os 10% mais ricos do país, basta ganhar R$ 50 mil por ano. Isso equivale ao salário aproximado de R$ 3.800 mensais de um trabalhador formal, que recebe décimo terceiro e adicional de férias.

Ao mesmo tempo, o Brasil é o nono país com mais bilionários no mundo. O país onde os juízes se recusam a receber “apenas” o teto do funcionalismo público de 39 mil reais. Onde os médicos se recusam a participar do programa Mais Médicos, porque o salário de R$ 14 mil é “uma exploração”. O Brasil é um país desigual. Extremamente desigual.

Mas o Brasil não conhece o Brasil, não faz a menor ideia de como seu povo vive. A pobreza de 90% do Brasil não tem voz na mídia e só aparece nas redes sociais como estratégia de vender cursos de “como ficar rico”, ou cassinos online. A pobreza invisível do Brasil ajuda os poucos ricos a ficarem cada vez mais ricos.

A pobreza de 90% do Brasil não está lado a lado à sua pequena elite. A elite vive em um mundo separado, próprio, apartado. Todos os olhos voltados para ela, todos os discursos sobre ela. Só assim é possível que ela ignore seu privilégio. Só assim é possível que o Brasil ignore sua pobreza.

O Brasil, que vê apenas a riqueza da sua elite, não é capaz de perceber que a pobreza é a condição generalizada. Que quase ninguém tem condições de investir. Que quase ninguém se beneficia das isenções fiscais, paraísos fiscais, subsídios e milhares de outras medidas de fazer sua elite ficar ainda mais rica, mais descolada do país, mais estrangeira.

Os jornais, youtubers, influencers, falando direto da Ilha da Fantasia, fazem quem ganha três mil reais acreditar que o governo gastar com quem ganha mil reais é um desperdício, enquanto bilhões e mais bilhões são doados para os bancos donos dos jornais e empresas que patrocinam os influencers.

O Brasil não faz ideia de quem é. Acredita que é um azarado em um mar de prosperidade. Que com o curso certo, o investimento certo, o tigrinho certo, a igreja certa, vai conseguir alcançar o sucesso. Mas o sucesso é um resort exclusivo, murado, cercado por um mar de pobreza. A “casa mais vigiada do Brasil” que, ironicamente, não fica no Brasil. Nem perto dele.