Há muitos anos, uma professora fez a seguinte piada:
Se a UFMG acabar, Belo Horizonte demora três dias para descobrir, mas se BH acabar, a UFMG só fica sabendo depois de uma semana.
Talvez a piada sobre a falta de comunicação entre universidade e comunidade seja a melhor metáfora para falar do risco recente do Twitter acabar. Antes de mais nada, o Twitter é uma ilha, que tem muito pouca relação com o Brasil. Faz sentido para uma parcela tão pequena da população, que a primeira reação que a gente tem é: “e daí esse esgoto a céu aberto acabar?”
Porém, assim como a universidade federal atende uma parcela minúscula da população, mas é importante por conta de quem ela atende, o mesmo ocorre com o Twitter. Por graça ou maldição, a esfera pública do Brasil funciona nesse esgoto a céu aberto. A esfera pública é um conceito da comunicação que tenta descrever o espaço onde a sociedade debate seus temas de interesse comum. Como vivemos à sombra das maiorias silenciosas, a verdade é que a maior parte das pessoas não está nem um pouco interessada em participar da esfera pública, em debater os temas de interesse comum. Quem participa da esfera pública, assim como quem participa da universidade pública, é uma pequena minoria privilegiada, muitas vezes alienada em sua torre de marfim.
Fato é que os ministros do supremo, os jornalistas, os políticos, os economistas e outros, nossa elite cultual e intelectual, estão debatendo, em vez de em uma torre de marfim, no esgoto de uma rede que premia comportamento tóxico e até criminoso, promove discurso de ódio e está sob o comando de um maníaco que apoia movimentos autoritários.
É tão pouca gente, se for para colocar todo mundo em uma instância do Mastodon, não deve dar nem 50 mil perfis. A maior parte dos usuários do twitter, os adolescentes depressivos, os fãs de k-pop, os apreciadores de bots de pornografia, claro que vão ser incomodados. Ninguém gosta da sua rede social acabar, mas isso não é um problema para toda a sociedade. Inúmeras redes sociais, inclusive com mais usuários, já acabaram sem esse drama. As maiorias silenciosas levam suas vidas, e não afetam nosso destino coletivo ao levar suas vidas.
Se o Twitter acabar amanhã, o Brasil vai descobrir depois de três dias, porque, na verdade, muito pouca gente usa o Twitter. Ao contrário do WhatsApp, por exemplo, pouca gente depende dele no dia a dia, e quem depende, normalmente tem meios de achar outras plataformas.
A elite intelectual da esfera pública vai chiar e reclamar, mas a esfera pública vai se mover para outro lugar e, enquanto sociedade, ninguém perde nada. Na verdade, até ganha, porque há pouca chance dela ir para um lugar pior que o Twitter. Há poucos lugares piores que o Twitter. Talvez, a busca por esse outro lugar até ajude essa elite a descobrir o Brasil.
Tomara que acabe mesmo.
Atualização: CAIU!
StellaFlores
Eu recebia notificações do Twitter e toda vez que abria o link me arrependia. Cancelei. Nunca vi tanta baixaria em um lugar só
Mas divago...
E piorou muito nos últimos anos, depois que certo bilionário resolveu comprar. Está realmente um esgoto a céu aberto.