Monitoria e Controle

Me disseram há muitos anos que a consciência é “um estado de monitoria e controle”, e desde então me espanto com o quanto sou consciente. É quase irreal ouvir pessoas falando que apenas vivem, sem pensar e analisar cada situação, seus possíveis desdobramentos… apenas agindo.

Os românticos elogiam as paixões e os impulsos, exatamente pela sua falta de consciência, e admiram quem é capaz de escapar da consciência. O que, provavelmente, indica que eles mesmos eram atormentados pelo excesso da consciência e pela debilidade das suas paixões.

A paixão, como se diz sabiamente em Minas, é um sofrimento muito grande, porque paixão não se tem, se sofre. Ela nos cavalga sem pedir licença e nos leva até lugarem em que nunca imaginaríamos ir, para nos abandonar na terra devastada dos excessos, sofrendo de todos os afetos negativos que Espinosa pôde catalogar.

Os médicos, curiosamente, veem a falta de paixões como igualmente patológico, e receitam, em quantidades astronômicas, quebrando recorde arás de recorde, pílulas que reduzam a monitoria e controle do cérebro, o que os românticos provavelmente rejeitariam como uma artificialidade moderna.

A consciência, quando não tratada pelas maravilhas da farmacopeia moderna, pode levar a enxergar as contradições absurdas do sistema capitalista, da condição humana e da existência tanto humana quanto universal, o que costuma desencadear mais afetos negativos do que Espinosa pôde catalogar.

Diante das revelações aterradoras que a consciência traz, os gnósticos chegaram à conclusão inescapável de que o mundo foi criado por um demiurgo malevolente, que a nossa existência não passa de uma piada de mau gosto e a nossa vida não passa de uma tortura elaborada.

Graças aos desenvolvimentos da ciência, o pensamento humano abandonou noções místicas, como o gnosticismo e, basado nas contribuições inestimáveis de Kant e Husserl, os existencialistas colocaram o problema da existência em termos livres das paixões místicas: o mundo é um grande acidente sem sentido e a nossa vida um absurdo ao qual nós podemos tentar dar algum sentido em uma luta quixotesca. Ou não.

Os administradores do Neoliberalismo, escravos de sua paixão infinita por dinheiro, fazem de tudo para contaminar todos com esta cepa, porque apenas a cegueira que a paixão proporciona pode salvar um sistema que é uma piada de mau gosto e transforma nossa vida em uma tortura elaborada.