A esquerda defendeu o financiamento público de campanhas eleitorais por muitas décadas no Brasil, e agora que, bem ou mal, ele existe, haveria alguma paridade de armas nas disputas eleitorais. Infelizmente, o que observamos indica que mesmo com dinheiro, a esquerda tem uma grande dificuldade de eleger pessoas. Nesse post, analisamos alguns números da eleição de 2024.
Por exemplo, tanto UP e PSTU quanto PRTB, AGIR, Mobiliza e DC receberam a cota mínima do fundo de financiamento eleitoral, pouco mais de R$ 3,4 milhões. Todos estes são partidos sem deputados e senadores, que podem direcionar emendas do orçamento secreto. Mas a diferença de desempenho é gritante.
Partido | Prefeitos | Vereadores |
PSTU | 0 | 0 |
UP | 0 | 0 |
PRTB | 1 | 95 |
DC | 2 | 250 |
AGIR | 3 | 291 |
MOBILIZA | 21 | 360 |
A diferença não se aplica apenas a partidos “nanicos”. Entre os partidos com as maiores fatias no fundo eleitoral, PT e PL tiveram um desempenho razoavelmente parecido. O PT recebeu 64% do que o PL recebeu, e elegeu 63% do número de vereadores que o PL elegeu. Mas quando comparados com os partidos do arenão, União Brasil, PP, PSD e MDB, esses dois receberam mais e tiveram piores resultados. O PT, apesar de receber mais recursos que todos esses, fez menos prefeitos e vereadores que todos, como visto na tabela abaixo.
Recursos | Vereadores | Prefeitos | |
União Brasil | 111% | 52% | 42% |
PP | 137% | 45% | 33% |
PSD | 143% | 47% | 28% |
MDB | 148% | 38% | 29% |
Nesse caso é provável que tenhamos uma distorção grande por conta das emendas, mas o fato do PL ter um resultado parecido com o do PT ameaça a explicação. Posso imaginar um analista da GloboNews dizendo que isso é um sinal do eleitor fugindo da “polarização”, e que o voto ideológico é mais caro, mas como é comentarista da GloboNews podemos descartar essa opinião como errada.
Talvez o caso mais gritante seja o do PSOL. O partido recebeu R$ 128 milhões, mais que o dobro do PCdoB e bem mais que o Avante, que recebeu R$ 75 milhões, mas teve resultados piores que esses dois. Não elegeu nenhum prefeito e apenas 80 vereadores, enquanto o Avante elegeu 136 prefeitos e 1511 vereadores. O PCdoB, que de modo algum foi bem na eleição, com R$ 60 milhões, elegeu 19 prefeitos e 345 vereadores. Mesmo descontando os gastos do partido com a campanha de Guilherme Boulos em São Paulo, o resultado anda é uma catástrofe em termos de transformar dinheiro em poder político.
O que os números mostram é que a esquerda gasta mal os recursos que recebe para fazer campanha, independente de outros fatores, e precisa refletir sobre como gastar melhor esses recursos. Algumas hipóteses para explicar esse mau gasto são:
- Foco em grandes cidades: a campanha nas grandes cidades é muito mais cara que a nas pequenas cidades. A esquerda, historicamente, participa mais das eleições nas metrópoles, o que leva à situação de gastar muito para eleger poucos.
- Campanhas sem chance de vitória: a variável mais importante para o custo do voto é ganhar a eleição. Investir em campanhas sem chance de vitória pode ser visto como um meio de desperdiçar dinheiro, que poderia ser usado em uma campanha com mais chances. Provavelmente esta é a variável que explica o desempenho do PL ser parecido com o do PT, uma vez que ambos os partidos são “obrigados” a lançar candidaturas. Provavelmente também explica UP e PSTU, que insistem em campanhas majoritárias em capitais, valorizando mais a disputa ideológica que o resultado eleitoral.
- Divisão de recursos entre candidatos: O sistema eleitoral brasileiro é construído em torno da premissa de que 90% de quem concorre não será eleito. Principalmente nas eleições proporcionais, alguns candidatos bem financiados e bem votados são eleitos e a maior parte colabora no esforço. A divisão mais igualitária de recursos entre os candidatos pode levar a nenhum conseguir alcançar um volume de campanha que leve à eleição.
Claro, muito mais estudos sobre o tema são necessários, mas divago…
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