Como um meio de comunicação, a internet tem o grande problema de não ter valor em si, mas apenas adicionar valor a outras coisas. Não importa se é a marcação de um exame pelo site ou a leitura do jornal, o que carrega valor é a consulta ou a matéria do jornal, e não a internet, que é apenas um meio de acesso. Claro, milhões de pessoas cujo trabalho depende da internet não gostam dessa visão dela como apenas uma infraestrutura que agrega valor, mas não tem valor em si. Uma estrada, facilita, amplifica, acelera, mas não cria nada. Vai conta a nossa ideologia de louvação digital. Mas é a visão necessária, porque no fim das contas, o importante é o que está dentro da página web. É o Caetano estacionando o carro no Leblon, ou é a Vaza-Jato?
Se a internet é uma infraestrutura, quer dizer que mesmo ela não tendo valor, ela tem um custo, e temos apenas dois meios de financiar este custo: socializando o custo através de um gestor público ou permitindo a extração de valor por particulares pelo uso, através de pedágios. A internet hoje, é financiada principalmente através de pedágios, porém esses não são cobrados de quem trafega nela, mas de quem quer receber este tráfego. Esse arranjo pode existir porque ao contrário de uma estada, reta e direta, a internet é um labirinto. O pedágio cobrado é fornecer guias para que as pessoas possam te encontrar no labirinto.
Há algo como 10 anos atrás, a publicidade na internet era simplesmente irritante, porque os temas de meu interesse não anunciavam e os temas anunciados não eram do meu interesse. Dessa época vem a piada “será que o Spotify faz propaganda de metal para quem ouve pagode?” que resume bem a questão. Nessa época, cada grupo de interesse acompanhava suas fontes de noticias, suas lojas, seus lançamentos, e a publicidade era apenas um incômodo.
Hoje em dia a publicidade é uma necessidade, porque é quase impossível acompanhar algo sem ela. E exatamente por isso, os grupos que tinham acesso orgânico ao seu público, precisam, cada vez mais, pagar publicidade. Claro, tudo por causa das redes sociais.
A internet se tornou inusável não porque as grandes corporações não estivessem felizes com pagar anúncios para serem vistas nas redes sociais, mas porque para a Meta não é o bastante que só as grandes corporações comprem anúncios. É preciso que o café da esquina, o consultório dentário, o psicólogo, a diarista, sejam obrigados a anunciar para que possam ser encontrados. O grande negócio da internet nos últimos anos é tornar a publicidade cada vez mais necessária, para aumentar o número de anunciantes, e a melhor maneira de fazer isso é tornar cada vez mais difícil para o público encontrar o que ele tem interesse, a não ser que seja através de anúncios.
Para isso mataram tentaram matar o RSS, criaram as linhas de tempo algorítmicas, reduziram o alcance orgânico de qualquer coisa nas redes sociais. Porque quanto mais difícil conseguir o que as redes sociais apresentam como seu principal produto, estar em contato com o que te interessa, maior a chance de que quem oferece o que te interessa seja obrigado a pagar para chegar até você e elas conseguirem vender o que é realmente seu principal produto: publicidade.
2 Comentários
2 Pingbacks