Meu gosto musical tem a tendência de se afundar nas músicas mais depressivas que o rock, em suas infinitas variações, é capaz de fazer. Mas ouça esse disco de frevo:

A Banda Eddie, que tem décadas de estrada, mas encontrou seu estilo genial apenas no terceiro disco, Metropolitano. Já tinha se afastado do rock no segundo, Original Olinda Style, mas tateava em busca da própria voz.

Metropolitano já tem todos os elementos que me fazem amar a banda: um frevo um pouco mais grave, um pouco mais lento, com letas poéticas, profundas e pesadas.

Parece pouco, mas é uma mudança tão radical quanto a entre o rap e o trip-hop. A música continua transbordando brasilidade, continua dançante, mas abandona a alegria dos carnavais para mergulhar nas angústias dos outros 360 dias do ano. Talvez por isso, o quarto álbum deles se chame Carnaval no Inferno.

Claro, há músicas mais alegres, porque a vida não é apenas o terror de ser uma peça biológica em uma máquina que nos esmaga entre suas engrenagens, mas a banda consegue falar bem da sensação, mais brasileira impossível de quando

Arde aqui dentro de mim uma pouca vontade
Com gosto cortante de caco de vidro, desnutrida
Exposta à fratura
Desequilibra
Desequilíbrio

São tantas saídas dadas ao absurdo
São tantos sabores destrutivos
Veneno pro dia corrosivo
Desequilibra
Desequilíbrio

Atiça, último disco de inéditas, é o ápice desse estilo muito singular da Banda Eddie, que certamente deveria fazer escola e virar gênero, mas todos os discos, dede Metropolitano, são obras de arte que abrem novas portas na música brasileira. Uma espécie de frevo-darkwave, que todos os trevosos desse país tropical deveriam ouvir, ao menos uma vez na vida.