“Como fazer amigos e influenciar pessoas” … no Mastodon

Há muito texto na internet sobre os aspectos técnicos de como usar o Mastodon, como entrar na Federação, mas poucos que explicam como essa rede funciona de fato, suas relações sociais e o que você precisa saber para trilhar o caminho para o sucesso aqui. Este texto é para você que não entendeu os intrincados códigos sociais dessa comunidade.

“Somos todos loucos aqui”

A Federação é um espaço de nicho, usado por early adopters e tendency setters que fracassaram em serem copiados por massas intermináveis. Por isso são vistos como estranhos, “poetas, loucos, místicos, […] tudo que não era são”. Sem entender este fato primordial, é impossível se enturmar aqui. Esse fracasso em ditar tendência pode ser facilmente explicado pelo fato de que a Federação é composta por pessoas excluídas, perseguidas, discriminadas, pelos mais variados motivos, desde alguns quase universais, como pertencer à classe trabalhadora, que não tem nada a perder, exceto suas cadeias, até elementos mais específicos, como deficiências, neurodivergências, raça, gênero, expressão de gênero, orientação sexual, e os outros infinitos motivos para a discriminação na sociedade capitalista.

Isso quer dizer que para se entrosar nesse círculo é preciso estar atento a demandas pouco razoáveis em qualquer esgoto a céu aberto que chamam de rede social, como garantir a acessibilidade do que publica, adicionando descrição de imagens e vídeos e legendando os vídeos, não praticar assédio direcionado, adicionar CW em publicações com temas que incomodam outras pessoas, não discriminar as pessoas por nenhum dos infinitos motivos de discriminação na sociedade capitalista, nem mesmo sob a alegação de humor ou liberdade de expressão.

Para ser popular na Federação, veja você a loucura, é preciso ser uma boa pessoa, ao contrário das manufaturas de indignação que chamam de rede social, que amplificam a agressividade através de seus algorítimos, premiando bullies de todo tipo. É isso que acontece quando não existe uma grande corporação premiando os bullies e os tornando inescapáveis: as pessoas os excluem.

“Sem Deuses! Sem Mestres!”

A Federação tem uma organização muito mais horizontal que qualquer máquina de fabricação de neonazistas que chamam de rede social hoje em dia, o que significa que você precisa seguir os outros e participar de conversas, em vez de postar para os fãs e se deleitar com a dopamina das notificações. É assim que as amizades se formam, aliás, e fazer isso fará com que encontre pessoas maravilhosas, às quais, em longos diálogos, acabará por influenciar e ser influenciado.

Mas repare que você nunca será um influencer, e se é isso que você entendeu por “Fazer amigos e influenciar pessoas”, talvez seja o caso de rever o que entende por amigos e pessoas. Seguidores não são amigos e multidões não são pessoas. Esta é uma rede sem deuses e sem mestres, mas se isso significa que você não será um ninguém, ignorado e eternamente esquecido, significa também que você não será uma celebridade.

“Mas é preciso ter baixelas de ouro, compreendes?”

Fale sobre aquilo que te apaixona. Há alguém que partilha sua paixão por tampinhas de garrafa dos anos 60 ou vai adorar cada foto do seu gato vira lata mal-humorado. Qualquer máquina de vício e manipulação que chamam de rede social vai recomendar postar as coisas mais exageradas, gráficas, extremas e revoltantes, porque isso é amplificado pelos algorítimos e pela necessidade das pessoas sinalizarem virtude, mas em um ambiente saudável, como a Federação, essa postura é reconhecida como o que é: a imaturidade edgy adolescente, quando autêntica ou o mercador do sensacionalismo, quando interesseira. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: bloqueio coletivo, boicote e banimento.

A cultura da Federação está longe, muito longe, da positividade tóxica de qualquer manufatura de disforia de imagem que chamam de rede social. Os relatos sobre os inúmeros absurdos normalizados por “nossa história profundamente assassina” são recebidos com a solidariedade das comunidades saudáveis, mas o choque pelo choque, a manipulação barata da nossa capacidade de indignação, não tem espaço. O conteúdo mais bem recebido é o sobre as coisas que você ama e vive. Compartilhar seus tesouros nessa rede social é a melhor forma de enriquecer em amigos.

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